quinta-feira, 7 de junho de 2012

Diário de um psicólogo #2

Ao iniciar o quarto ano de psicologia deparei-me com uma situação um tanto quanto desagradável a primeira vista, mas depois de muito considerá-la compreendi o seu real valor.

No quarto ano começam os estágios de triagem, que consistem em entrevistas preliminares para acelerarmos o processo de encaminhamento e também para que os alunos tenham suas primeiras experiências com pacientes na clínica, antes desse momento eu havia nutrido certa inclinação a me achar extremamente capaz e muito versado nos diversos aspectos da psicologia e que algumas entrevistas de triagem não seriam de modo algum trabalhosas ou penosas.

Eu estava absurdamente enganado, deparei-me com dificuldades tremendas, quando se está com outra pessoa e esta deposita em você suas dores, sua história, suas expectativas de cura e as mais diversas fantasias alicerçadas no pouco, se não, nulo conhecimento relativo às ciências psicológicas, você percebe o quanto ainda tem a aprender sobre as ciências psicológicas, mas em especial sobre você mesmo.

As dificuldades em integrar os três anos de estudos em psicologia para tentar compreender mesmo que superficialmente o ser humano complexo e em estado dor e sofrimento que se apresenta a sua frente, a idéia onipotente, que rapidamente cai por terra, de que você pode realmente fazer alguma coisa para livrá-la rapidamente do sofrimento que a aflige, dificuldades de tratar com os pacientes certos temas dos qual você nuca imaginou ter problemas em falar e a maior de todas, começar a compreender que estar disponível e ouvir realmente uma pessoa são uma das tarefas mais complexas, pois você é parte integrante da equação e o desconhecimento de si mesmo influencia enormemente.

A vida não se desenrola de maneira linear, ela é composta de picos e depressões, a minha grande ignorância se baseou em tentar desentrelaçar a minha vida pessoal da acadêmica e profissional, é um todo indivisível, assim como cada pessoa que uma vez por semana se propõem a nos encontrar e durante 50 minutos revelarem todos os picos e depressões únicos de suas vidas.

Considerei essas minhas primeiras experiências clínicas como uma grande feriada narcísica e de ninguém é a culpa alem de mim mesmo, acho que não tem uma maneira apropriada de encerrar este texto, portanto darei a mim o imenso privilégio de vê-lo encerrado por uma citação de Freud sobre o saber.

“Só o homem que realmente sabe é modesto, pois ele sabe quão insuficiente é o seu conhecimento”
Sigmund Freud – A questão da análise leiga.  Volume XX

Um comentário:

  1. Arthur Breanza Figueiredo14 de junho de 2012 às 12:56

    Tio,parábens pela sua análise e pelo seu insigth,são essas coisas que tornam a psicologia tão bela e tão incrivel de se estudar

    abraços

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