Ao iniciar o
quarto ano de psicologia deparei-me com uma situação um tanto quanto desagradável
a primeira vista, mas depois de muito considerá-la compreendi o seu real valor.
No quarto ano
começam os estágios de triagem, que consistem em entrevistas preliminares para
acelerarmos o processo de encaminhamento e também para que os alunos tenham
suas primeiras experiências com pacientes na clínica, antes desse momento eu
havia nutrido certa inclinação a me achar extremamente capaz e muito versado
nos diversos aspectos da psicologia e que algumas entrevistas de triagem não
seriam de modo algum trabalhosas ou penosas.
Eu estava
absurdamente enganado, deparei-me com dificuldades tremendas, quando se está
com outra pessoa e esta deposita em você suas dores, sua história, suas
expectativas de cura e as mais diversas fantasias alicerçadas no pouco, se não,
nulo conhecimento relativo às ciências psicológicas, você percebe o quanto
ainda tem a aprender sobre as ciências psicológicas, mas em especial sobre você
mesmo.
As dificuldades
em integrar os três anos de estudos em psicologia para tentar compreender mesmo
que superficialmente o ser humano complexo e em estado dor e sofrimento que se
apresenta a sua frente, a idéia onipotente, que rapidamente cai por terra, de
que você pode realmente fazer alguma coisa para livrá-la rapidamente do
sofrimento que a aflige, dificuldades de tratar com os pacientes certos temas
dos qual você nuca imaginou ter problemas em falar e a maior de todas, começar
a compreender que estar disponível e ouvir realmente uma pessoa são uma das
tarefas mais complexas, pois você é parte integrante da equação e o
desconhecimento de si mesmo influencia enormemente.
A vida não se desenrola
de maneira linear, ela é composta de picos e depressões, a minha grande ignorância
se baseou em tentar desentrelaçar a minha vida pessoal da acadêmica e
profissional, é um todo indivisível, assim como cada pessoa que uma vez por
semana se propõem a nos encontrar e durante 50 minutos revelarem todos os picos
e depressões únicos de suas vidas.
Considerei essas
minhas primeiras experiências clínicas como uma grande feriada narcísica e de
ninguém é a culpa alem de mim mesmo, acho que não tem uma maneira apropriada de
encerrar este texto, portanto darei a mim o imenso privilégio de vê-lo
encerrado por uma citação de Freud sobre o saber.
“Só o homem que realmente sabe é modesto,
pois ele sabe quão insuficiente é o seu conhecimento”
Sigmund Freud – A questão da análise leiga. Volume XX
Tio,parábens pela sua análise e pelo seu insigth,são essas coisas que tornam a psicologia tão bela e tão incrivel de se estudar
ResponderExcluirabraços